"Você sabia, que uma criança obesa pode ser desnutrida?"
Palavra de Especialista

Conheça os aliados e os vilões na hora da refeição, pela experiente visão do Dr. Aranha.

08 de dez, 2015 - Postado por Dr. Antônio Carlos de Souza Aranha

A rotina do bebê, desde seu nascimento, tem total ligação com a formação ou não de bons hábitos no futuro .

O segredo de tudo é ritmo!

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Ritmo em relação as mamadas, ao sono, do despertar ao adormecer para uma noite de descanso. Ritmo ao inserir a alimentação complementar, hora do banho, hora de brincar, hora de relaxar. Uma rotina adequada para cada faixa etária, facilitará e muito, a formação de bons hábitos e beneficiará o desenvolvimento desta criança.

Para o momento da refeição, temos alguns fatores considerados ALIADOS para alcançar este sucesso:

  1. Estabelecer um ritmo e um horário das refeições que se repete todos os dias, criando uma rotina previsível, trás segurança e tranquilidade;
  2. Se possível ou quando possível, reunir toda a família à mesa na hora da refeição;
  3. Eliminar qualquer interferência eletrônica como aparelhos celulares, tablets, televisão etc.
  4. Criar uma possibilidade de conversa e bem estar para a hora da refeição, de preferência assuntos agradáveis. Hoje em dia, podemos considerar na rotina atribulada que as famílias estão inseridas,  que o único momento possível para um bom diálogo familiar, é quando estamos em torno da mesa.

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Evite ao máximo, levar para o momento das refeições questões difíceis, desagradáveis, cobranças ou broncas, pois isso vai atuar diretamente na digestão dos alimentos.

Uma refeição tensa é o começo para dores abdominais e distúrbios da digestão.

Em relação ao tipo de dieta, considero que ela deva ser o mais individualizada possível.

Desde o nascimento, devemos sempre observar junto com a mãe, as reações de cada criança ao alimento ofertado, inclusive através do leite materno, onde muitas vezes, precisamos alterar algo na alimentação da mãe para melhorar a digestão ou a aceitação do leite.

Na fase das papinhas, em geral, os bebês comem bem àquilo que orientamos em consultório, com algumas exceções é claro, que serão notadas pela mãe. Alguns alimentos poderão causar distúrbios como gases, intestino preso ou solto, etc.  Uma vez notado tais alterações, retiraremos o mesmo da dieta e retornaremos em momento oportuno.

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Uma coisa é a criança escolher o que quer ou o que prefere, outra coisa é a mãe observar o que é mais adequado. Acredito de fato, que no início da alimentação complementar, é a mãe quem deve escolher e orientar as refeições do seu filho.

O paladar da criança deve ser desenvolvido nos primeiros anos de vida e para isso, existe toda uma técnica, para que o bebê entre em contato com uma gama variada de sabores e texturas.

Nesta hora, temos que dar menos importância para o gosto dos alimentos em si e a possível preferência do bebê. Mas sim, na relevância do desenvolvimento de um paladar saudável, com a oferta de alimentos de qualidade, fazendo-a levar este hábito por toda a vida.

Com o passar do tempo, as crianças tem uma tendência a desenvolver uma preferência monótona por certos alimentos. Há crianças que só querem arroz, outras apenas macarrão, algumas preferem a carne e por aí vai… Por isso é tão importante, ofertarmos uma variedade maior de possibilidades, para que num futuro próximo, a aceitação seja melhor assimilada.

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De todos os lados a postura e segurança dos pais no cotidiano é muito importante, pois muitas vezes a criança adora um determinado alimento no almoço e quando a mãe o repete no jantar, ela diz que odeia. Se a mãe optar por retirar este alimento por completo do cardápio é um erro, o certo seria, reintroduzi-lo o mais breve possível, reiterando a importância e a participação dele em sua rotina alimentar, o que será um exercício contínuo por muitos anos.

Sabemos que a indústria de alimentos tem toda uma técnica em desenvolver o “mau gosto” nas crianças através da inserção de muito açúcar, sal ou outros aditivos e aromas em seus produtos, por isso, se nas primeiras dificuldades de aceitação, escorregarmos para este tipo de alimento, pode ter certeza que lá na frente, na fase adulta, ele terá que lutar contra este mau hábito e suas consequências.

A ideia é trazer uma memória gustativa saudável, presando pelo sabor natural dos alimentos, não deixando esta conduta ser guiada pela criança, pois nem sempre seu gosto por um determinado item do cardápio, é o melhor para ela. Esta escolha tem que estar nas mãos da mãe.

Quando recebo uma queixa em meu consultório, de uma mãe dizendo que seu filho não come nada, em geral, criancas-gordas-03-08não vejo uma criança magra, muitas vezes vejo uma criança obesa, que deve sim comer tudo, mas apenas o que ela quer e a hora que ela quer. E assim,  meu trabalho é conscientizar os pais de tal conduta e procurar guiá-los a fazerem novas escolhas, não deixando nas mãos da criança, que certamente está guiada pela indústria do consumo.

 

Uma criança “desnutrida” muitas vezes é gorda, não magra.

Nos primeiros 7 anos de vida, os pais deveriam ter o domínio total da alimentação de seus filhos para então, quando chegar a fase de incorporar com maior autonomia seus hábitos em relação a saúde, estudo, higiene, social, que acontece entre 7 e 14 anos, eles estejam abertos a fazerem boas escolhas.

Mesmo que na primeira etapa, este caminho não tenha sido o ideal, não desista! Até os 14 anos, os pais ainda tem forças para incorporar boas condutas no dia a dia de seu filho, em relação a tudo.

Vamos plantar hoje para que a colheita no futuro, seja farta e próspera.

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08 de dez, 2015
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Dr. Antônio Carlos de Souza Aranha
Dr. Antônio Carlos de Souza Aranha é Médico de Família formado pela Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo em 1976. Colaborador da Clínica Tobias desde 1977, Dr. Aranha especializou-se em Medicina Antroposófica e estagiou na Lukas Klinik e Ita Wegmann Klinik na Suíça. É também um dos fundadores da Associação Brasileira de Médicos Antroposóficos, Diretor-Docente do Instituto de Terapia Familiar de São Paulo, Docente no curso de Formação em Pedagogia Waldorf de Cuiabá, alem de colunista da Revista Pais & Filhos. Dr. Aranha atua nas áreas de Clínica Geral, Pediatria e Terapia de Casal e de Família.
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